Acessibilidade em Foco: O Legado na Tecnologia Assistiva
Recebemos a história de Claudio Gonçalves Bernardo, um colaborador da GFT que desenvolveu um aplicativo de acessibilidade para pessoas com deficiência visual (PDV).
Sua trajetória é um exemplo claro de como ele vive a essência do nosso manifesto, deixando uma marca positiva e impactante na sociedade.
Quem é você e qual é sua formação?
"Sou Claudio, Especialista Mainframe na GFT Brasil. Minha formação é em Economia, Pedagogia, Mestrado em Engenharia de Computação (IPT/USP) e doutorado em Ciência da Informação pela UNB. Além disso, fui professor universitário por 20 anos, sendo 11 na UNIP, conciliando minha carreira técnica com a docência e a pesquisa. Sempre trabalhei com projetos na área financeira, principalmente no setor bancário".
O que despertou seu interesse pela acessibilidade para pessoas com deficiência visual?
"Meu interesse surgiu de uma experiência pessoal. O avô da minha esposa perdeu a visão há cerca de oito anos, e isso me fez perceber as dificuldades que pessoas cegas enfrentam para acessar informações. Desde então, comecei a estudar o tema, pois queria encontrar maneiras de tornar a informação mais acessível para quem tem deficiência visual".
Qual foi o ponto de virada na sua trajetória nessa área?
"O ponto de virada aconteceu em 2016 quando era aluno do Doutorado em Ciência da Informação na UnB - Universidade de Brasília. Em Agosto viajei para a UFRJ (Fundão, RJ) para conhecer o Núcleo do DCE - Departamento de Computação Eletrônica e seu diretor Dr. José Antônio, criador do DOSVOX. Para quem não conhece, o DOSVOX é um sistema operacional que permite que PDV usem o computador de forma independente, com audiodescrição e sintetizadores de voz. Fiquei muito impressionado com o impacto desse projeto, que já ajudou cerca de 200 mil pessoas. Isso me inspirou a desenvolver uma solução própria".
Como foi o processo de criação do seu aplicativo?
"Em 2020 defendi a tese na UnB ‘Modelo de referência de artefato de Tecnologia Assistiva para acesso à informação sobre ambiente indoor por pessoa com deficiência visual’.
A ideia é que a ferramenta fornecesse informações sobre ambientes físicos. Por meio de imagens, declaração do espaço bidimensional (comprimento x largura) e audiodescrição das distâncias e anteparos previamente estudados, foi elaborado um protótipo de App desenvolvido em React Native e Python, para orientação espacial em um ambiente indoor, criado exclusivamente para pessoas com deficiência visual.
Após análise de muitos especialistas foi identificado que este artefato também serve para pessoas videntes, pois fornece informação para todo usuário dele".
Como você testou e validou o protótipo?
"Em 2019, levei o protótipo para o Congresso ‘Encontro de Usuários do DOXVOX’’, em Curitiba. Neste evento, havia 180 pessoas com deficiência visual e dessas, 48 testaram o protótipo e responderam a um questionário cumprindo os protocolos determinados pelo Ministério da Saúde; os dados coletados inclui na minha tese. Os respondentes afirmaram que o aplicativo realmente oferecia acessibilidade e tornava mais fácil o acesso à informação em ambientes físicos. Além disso, entrevistei pessoas videntes da área, muitas com doutorado, para garantir que o aplicativo também seria útil para elas".
Quais foram/serão os próximos passos do projeto?
"Em 2016, apresentei o pré-projeto em Portugal, e agora, em outubro de 2024, vou apresentar o aplicativo na ABEDEV - Associação Brasileira de Educadores de Deficientes Visuais, o que é uma oportunidade incrível para mostrar o aplicativo a um público especializado. Além disso, fui convidado para ser assessor de tecnologia da associação".
Na sua visão, qual é o impacto que o seu aplicativo terá no cenário global de acessibilidade?
"Acredito que meu aplicativo traz uma contribuição importante para a acessibilidade global, porque não existe nada similar no mundo. Ele não só facilita o acesso à informação para pessoas cegas, mas também atende qualquer pessoa, tornando a interação em ambientes físicos mais inclusiva. Minha intenção é que essa tecnologia ajude a promover mais acessibilidade e inclusão em espaços que ainda são inacessíveis para muitas pessoas".
Com uma trajetória que une expertise técnica, sensibilidade social e inovação acadêmica, Claudio Gonçalves Bernardo continua expandindo os limites do que é possível na acessibilidade tecnológica.