Neste sentido, a tecnologia é uma alavanca crítica para viabilizar essa mudança. O setor segurador brasileiro ainda apresenta baixa maturidade digital. Isso limita o desenvolvimento de produtos acessíveis, já que estruturas legadas, como mainframes, têm custos elevados de operação e dificultam a agilidade necessária para inovar. Enquanto as insurtechs avançam rapidamente com arquiteturas modernas, muitas seguradoras tradicionais ainda enfrentam um cenário de “correr atrás do prejuízo”, investindo em transformação digital para não perder espaço.
Ao migrar para soluções mais leves e escaláveis, o setor não apenas reduz custos, mas amplia o alcance de seus serviços. Um exemplo citado por especialistas é a possibilidade de vender produtos simples, como títulos de capitalização a R$ 1,30, para públicos de lojas de varejo, algo inviável em sistemas legados de alta plataforma, como mainframes, que possuem elevado custo de processamento, manutenção e operação. O ambiente em Cloud, mais do que Inteligência Artificial (IA), surge como a peça-chave para democratizar o acesso e permitir modelos inovadores, como o seguro sob demanda e as plataformas SaaS, nas quais o cliente pode contratar, alterar e cancelar produtos com a mesma facilidade com que gerencia uma assinatura de streaming.
Contudo, a transformação tecnológica por si só não basta. É preciso trabalhar a jornada do cliente e desmistificar o seguro. Iniciativas como o encontro Diálogo Setorial, da Susep, mostram um esforço em integrar educação securitária ao cotidiano da população, com projetos em escolas e campanhas contínuas. A lógica é simples: consumidores mais informados não apenas entendem o valor da proteção, mas se tornam mais propensos a planejar financeiramente o futuro, contribuindo para a saúde econômica do país. A CNseg, por exemplo, aponta que a arrecadação do setor cresceu 5,9% no primeiro trimestre de 2025, mesmo em um cenário econômico instável, reforçando o potencial desse mercado quando há investimento em conscientização.
A jornada digital e o seguro como SaaS representam um caminho natural para fidelização. Assim como serviços financeiros digitais já conquistaram o público ao oferecer praticidade e transparência, o setor de Seguros pode seguir a mesma trilha. Uma plataforma na qual o cliente customiza coberturas, contrata em minutos e acompanha sua apólice em tempo real cria uma relação de confiança – algo que reduz a percepção de “gasto” e eleva a de “investimento em proteção”.
Para que isso aconteça, o setor precisa unir tecnologia, cultura e estratégia de negócio. Ao investir em cloud e em inteligência orientada por dados (data-driven intelligence), as seguradoras conseguem criar produtos mais competitivos e personalizar ofertas, tornando microsseguros e pacotes sob medida mais atrativos a novos públicos, consolidando assim a proteção como um hábito cultural. A transformação depende de um ecossistema educativo e colaborativo, no qual seguradoras tradicionais, insurtechs, órgãos reguladores e sociedade civil se alinhem.
O mercado segurador brasileiro vive um momento de inflexão paradoxal. A combinação de educação, inovação e personalização pode converter um setor ainda visto como burocrático em um serviço essencial, acessível e desejado. O desafio está lançado: deixar de vender apenas apólices para vender tranquilidade.